do direito à paz na blogosfera
As anânimas e os anônimos – ou, da intimidação moral e ideológica na blogosfera brasileira
15 novembro 2006
Conclusão
Este final de semana, a anânima-mor, 5 meses após o desentendimento com minha amiga, invadiu meu album de fotografias virtual para nos agredir, de maneira lúdico-infantil, o que mostra o quão restrita e reacionária é a sua retórica. Imagino a quantidade de bílis produzida no ruminar sobre um incidente visivelmente insignificante. Minha amiga nunca respondeu aos seus desaforos e eu, nunca estabeleci nenhum contato com a mesma, o que me deixou a pensar sobre o porquê de ela ter vindo até mim. Na época do conflito, inclusive, fui agraciada com um post em minha homenagem, por ter ido ao blog da mesma a fim de ler o que dizia sobre minha amiga; e a última, ameaças caso eu continuasse a visitar o canto virtual da anânima. A anânima pode invadir a privacidade alheia, mas ai de quem visitar seu espaço público (coisas de anânima...)!
Por solidariedade à minha amiga, cometi o suicídio bloguístico, pela simples falta de vontade de envolver-me numa disputa sem sentido e, também, por questões pessoais. Sem querer, dei a anânima o que ela queria, ainda que não me sentisse como tal. Não a conheço, nem nunca quero conhecê-la, e meu intuito com este, pode-se dizer, manifesto, é alertar os que inocentemente, fazem parte do seu círculo.
Os anônimos são perniciosos, mas as anânimas, mais ainda. A esperança é que as mesmas sejam, como parece, uma espécie autofágica e que, uma vez encerrado seu baile de máscaras (nothing lasts forever), venham a se devorar com a mesma eficiência com a qual importunam os que realmente têm o que fazer.
PS. Em tempo: ganhamos um novo post, agradeço à mesma pela possibilidade de embasar meu humilde manifesto. Gracias!
Os anônimos e as anânimas
O termo “anânima” não foi por mim estabelecido, é cria, marca registrada, de uma blogueira conhecida por seu sarcasmo (por alguns, pois para outros, a mesma posa de pessoa sensata e generosa) e suposta superioridade moral. Superioridade moral esta que, num fórum de discussão, como vim a saber por uma de suas “vítimas”, empenhou de forma fervorosa e dogmática a já citada bandeira da limpeza da blogosfera, como se lhe coubesse alguma autoridade messiânica. Arrisco dizer que a ambiguidade do termo “anânima” já revela por si só a ambivalência moral de sua criadora, que juntou no mesmo, o seu primeiro nome e o desejo, talvez inconsciente, de um certo anonimato, que lhe proporcionasse a segurança de nunca jamais ser atacada por suas próprias intolerâncias (vale a ressaltar que algumas anânimas, inclusive, moderam suas caixas de comentáriso, para assim evitarem o direito à divergência de suas opiniões ou à resposta aos seus insultos).
A personagem acima citada, apoiada por outras anânimas (vamos estabelecer assim, anânimas são as companheiras e seguidoras desta blogueira, que possuem padrões morais e ideológicos ambíguos), inicia, aleatoriamente, campanhas contra outras blogueiras, simplesmente por discordarem da maneira como estas levam suas vidas ou expressam o que lhes vai em pensamento - pois, incluem-se desde posicionamentos políticos até questões de cunho pessoal. As anânimas criaram para si uma licença que nada tem de poética ou idealista, mas que sim, lhes confere o privilégio de determinar quem tem ou não o direito de fazer parte da blogosfera. Aqui, temos uma certa analogia puritana, a propriedade de um rigor moral que as coloca como uma espécie de “povo escolhido”, ainda que as mesmas não possuam ações na corporação que veicula estes blogs.
Curiosamente, as anânimas por vezes se rebelam contra, ou são atacadas por, outras de sua espécie, e acabam mesmo assim, num gesto quase tocante de solidariedade (we are family), por mais tarde unirem-se em sua cruzada, de acordo com as mesmas, plenamente justicável. Pois, comentários preconceituosos, como os contra mulheres infertéis ou sexualmente infelizes (o que seria este rancor contra os que passam por dificuldades pessoais, algum tipo de projeção psicológica? desejos reprimidos? quem, com tanta bondade no coração, seria tão cruel contra suas próprias sisters?), como num comentário da anânima-mor que vi num blog que cometeu suicídio por conta de uma anônima (não confundir aqui as duas espécies), que elas tanto condenam tornam-se praticáveis se proferidos por seus doces lábios.
As anânimas, também, por vezes, abrem concessões, e apadrinham blogs que anteriormente as desagradavam, e não se sabe exatamente o porquê – se é por um equívoco de generosidade temporária, se é por conta da solidão (as anânimas perdem algumas militantes em sua batalha, quando estas descobrem que sua missão não é assim tão filantrópica como parecia de início, e são humanas, portanto, suscetíveis a este tipo de fraqueza existencial), por simples necessidade de recrutamento para as suas bases, ou mais provavelmente, para seduzirem sua presa antes de induzí-la ao suicídio cibernético. As anânimas são, como não poderia deixar de ser, carentes, exibicionistas e narcisistas, e precisam de audiência, por que, senão, como poderiam exisitir?
"Dois pesos e duas medidas"
É aqui que a máxima dos “dois pesos e duas medidas” começa a operar. Pois estes mesmos leitores que se indignam contra o posicionamento moral e ideológico desses blogueiros – que, de acordo com eles, é ofensivo no tocante ao politicamente correto -, começam a agir de maneira abusiva, e a proferir ameaças a quem escreveu ou exprimiu pareceres adversos aos seus próprios, em vez de expressarem sua divergência de opinião de maneira inteligente e civilizada, ou melhor: ignorarem estes textos de conteúdo teoricamente duvidosos, a prática da leitura ainda nos é democrática, portanto, podemos escolher aquilo que nos apetece ou não.
Estes - pode-se assim dizer, com base no assédio agressivo que cultivam contra determinados blogueiros -, cyber bullies, iniciam uma viagem esquizofrênica rumo aos espaços que consideram malignos, e pôem-se a insultar e, como já foi dito, ameaçar aqueles que desprezam (gratuitamente, na maioria dos casos), com o principal intuito de verem estes mesmos blogs esquecidos ou exterminados no cyber space. O que realmente os motiva é um mistério pois há, entre estes membros da blogosfera, indivíduos de prestígio acadêmico, ou mesmo, com uma grande bagagem a respeito da questão da tolerância ideológica. Ou mesmo, indivíduos que levam uma vida plena, com responsabilidades familiares e profissionais que pouco tempo reservariam ao exercício da violência cibernética quase que em tempo integral. É consideravelmente quantitativo o número de atividades exercidas pelas(os) tais:
- redação de posts quillomêtricos e a ilustração dos mesmos (ao escrever este texto pude verificar a quantidade de tempo gasta na dedicação à atividade bloguiística como tal)
- visitas e comentários a outros blogs, sites pessoais em meios como o orkut, flickr, multiply, you tube, etc.
- manutenção destes diversos sites e contas pessoais
- respostas aos comentários no próprio blog (muitas vezes, possuem mais do que um)
- participação em fóruns de discussões inúteis
- redação de emails diários a outros membros da blogosfera
- participação em chats online, como no msn messenger
- promoção de atividades de integração entre os blogueiros (como sorteios e afins)
A dedicação a todos estes exercícios pressupõe uma enorme disponibilidade de tempo, o que talvez indique uma literal “falta do que fazer”, e a amargura que lhe pode ser subsequente. O que leva ao questionamento – teriam estes indivíduos engajado-se numa missão que acabou por se tornar a própria missão de suas vidas, tornando-se cegos e obcecados pela mesma? E quem, nominalmente, são estes indivíduos?
Dos comentários
Apesar da maioria das opiniões expressadas neste blogs do tipo “diário” basearem-se na prática do “achismo”, ou simplesmente, possuírem fundamentos estritamente pessoais, há leitores que revoltam-se contra os conteúdos dos mesmos, como se os textos se tratassem de ofensas pessoalmente dirigidas a eles, e usam a caixa de comentários e os endereços eletrônicos para expressarem sua indignação contra o blogueiro, que nem sempre quis, em princípio, criar polêmica. É óbvio que o privilégio da liberdade de expressão, portanto, acaba por desandar em direção à balbúrdia, ou a popular “criação de barraco”. O que, teoricamente, teria que funcionar como espaço de debate e expressão racional da opinião, perde os critérios originais, e torna-se arena de execução pública. O mesmo, vale salientar, acontece nos chamados fóruns de discussão, que alguns dos blogueiros mais engajados acabam por estabelecer.
Intro
Utilizando um português bem claro, há uma quantidade imensa de blogs de conteúdo meramente informativo (jornalísticos e acadêmicos em geral), assim como há os de caráter confessionário (diários pessoais) e os de panfletagem ideológica (aqui, tanto das causas politicamente corretas como as de moralismos esdrúxulos e maliciosos).
Vou, então, diretamente ao assunto que tem me intrigado – e incomodado – que é a intimidação moral que tem se manifestado na blogosfera brasileira, pelo menos, na pequena amostra quantitativa dos que tive o privilégio – ou talvez o infortúnio – de ler nos meses mais recentes. Muitos dos quais, devido a ataques ideológicos ou simplesmente gratuitos, de ordem pessoal ou não, cometeram um suicídio involuntário, desaparecendo acompanhados da perplexidade de seus respectivos blogueiros. E por quê?
Há, claramente, blogs top parade, que recebem, às vezes, centenas ou milhares de visitas diárias, estimuladas pelo teor de seu discurso confessionário, ou ainda, pelo relato da experiência agora tão comum aos brasileiros, que é a aventura da imigração. Com milhões de pessoas a sonhar com o paraíso e uma vida melhor no exterior, e a relativa acessibilidade da internet, os blogs de quem mudou de país (quaisquer que tenham sido as razões), acabaram por se tornar extremamente populares, funcionando como fonte de informação e, também, de integração social (a solidão é uma temática comum a quem parte, e muitos blogueiros querem conhecer outros que estejam passando pela mesma experiência), ou simplesmente, como alvo da curiosidade tão comum a nós humanos.
Mas, voltando ao início deste texto, como acontece com quase tudo relativo à expressão “humanos”, o que no início pode parecer despretensioso ou benéfico, começa a mostrar a sua “outra face”, as falhas e a vulnerabilidade do território sobre o qual são estabelecidos.