As anânimas e os anônimos – ou, da intimidação moral e ideológica na blogosfera brasileira

15 novembro 2006

Os anônimos e as anânimas

A tipologia dos agressores militantes da blogosfera é simples: os mesmos se dividem entre anônimos (os que insultam escorados pela penumbra do termo “anônimo” e são, por vezes, engenhosos o suficiente para disfarçarem por completo a sua identidade), e as “anânimas”, que são aquelas (ou aqueles, por que não brincarmos com o gênero aqui) que expõem sua identidade aos navegadores do espaço cibernético, mas nem por isso, demonstram respeito ou coerência ao comentar textos alheios, tão envolvidas que estão em sua missão reacionária de “limpar a blogosfera”, como num caso que vim a conhecer e, de certa forma, participar.
O termo “anânima” não foi por mim estabelecido, é cria, marca registrada, de uma blogueira conhecida por seu sarcasmo (por alguns, pois para outros, a mesma posa de pessoa sensata e generosa) e suposta superioridade moral. Superioridade moral esta que, num fórum de discussão, como vim a saber por uma de suas “vítimas”, empenhou de forma fervorosa e dogmática a já citada bandeira da limpeza da blogosfera, como se lhe coubesse alguma autoridade messiânica. Arrisco dizer que a ambiguidade do termo “anânima” já revela por si só a ambivalência moral de sua criadora, que juntou no mesmo, o seu primeiro nome e o desejo, talvez inconsciente, de um certo anonimato, que lhe proporcionasse a segurança de nunca jamais ser atacada por suas próprias intolerâncias (vale a ressaltar que algumas anânimas, inclusive, moderam suas caixas de comentáriso, para assim evitarem o direito à divergência de suas opiniões ou à resposta aos seus insultos).
A personagem acima citada, apoiada por outras anânimas (vamos estabelecer assim, anânimas são as companheiras e seguidoras desta blogueira, que possuem padrões morais e ideológicos ambíguos), inicia, aleatoriamente, campanhas contra outras blogueiras, simplesmente por discordarem da maneira como estas levam suas vidas ou expressam o que lhes vai em pensamento - pois, incluem-se desde posicionamentos políticos até questões de cunho pessoal. As anânimas criaram para si uma licença que nada tem de poética ou idealista, mas que sim, lhes confere o privilégio de determinar quem tem ou não o direito de fazer parte da blogosfera. Aqui, temos uma certa analogia puritana, a propriedade de um rigor moral que as coloca como uma espécie de “povo escolhido”, ainda que as mesmas não possuam ações na corporação que veicula estes blogs.
Curiosamente, as anânimas por vezes se rebelam contra, ou são atacadas por, outras de sua espécie, e acabam mesmo assim, num gesto quase tocante de solidariedade (we are family), por mais tarde unirem-se em sua cruzada, de acordo com as mesmas, plenamente justicável. Pois, comentários preconceituosos, como os contra mulheres infertéis ou sexualmente infelizes (o que seria este rancor contra os que passam por dificuldades pessoais, algum tipo de projeção psicológica? desejos reprimidos? quem, com tanta bondade no coração, seria tão cruel contra suas próprias sisters?), como num comentário da anânima-mor que vi num blog que cometeu suicídio por conta de uma anônima (não confundir aqui as duas espécies), que elas tanto condenam tornam-se praticáveis se proferidos por seus doces lábios.
As anânimas, também, por vezes, abrem concessões, e apadrinham blogs que anteriormente as desagradavam, e não se sabe exatamente o porquê – se é por um equívoco de generosidade temporária, se é por conta da solidão (as anânimas perdem algumas militantes em sua batalha, quando estas descobrem que sua missão não é assim tão filantrópica como parecia de início, e são humanas, portanto, suscetíveis a este tipo de fraqueza existencial), por simples necessidade de recrutamento para as suas bases, ou mais provavelmente, para seduzirem sua presa antes de induzí-la ao suicídio cibernético. As anânimas são, como não poderia deixar de ser, carentes, exibicionistas e narcisistas, e precisam de audiência, por que, senão, como poderiam exisitir?

Um comentário:

Ricardo Machado disse...

Alguem tem que fazer a caridade de mandar uma carta-bomba com 100 gramas de C4 pra sujeita, para ajudá-la a compreender o que é poder e militância em política...